HomeNotíciasWorkslop: entenda como a IA pode sabotar a produtividade nas empresas

Workslop: entenda como a IA pode sabotar a produtividade nas empresas

No dia a dia das empresas, muitos termos são usados para definir aqueles trabalhos “de fachada” — bem formatados, mas sem conteúdo relevante: encheção de linguiça, enrolation, verborragia, enfeite retórico, pirotecnia verbal e até mesmo sofisma estético.

Agora, pesquisadores da Universidade de Stanford, nos EUA, cunharam um neologismo para o fenômeno — workslop — cuja descrição oficial é: “conteúdo gerado por IA que se disfarça como um bom trabalho, mas carece de substância necessária para de fato impulsionar uma tarefa”.

Em um artigo recente, publicado na Harvard Business Review, os autores alertam que, para cumprir metas de uso rotineiro de IA — determinadas por gestores preocupados em mostrar retorno rápido dos investimentos — funcionários têm recorrido à tecnologia para tarefas que poderiam resolver melhor sem ela.

O resultado tem sido um aumento exponencial do workslop, ou seja, conteúdos superficiais, mal direcionados, que, a princípio, podem até parecer produtivos, mas que apenas aumentam o retrabalho dos colegas destinatários. Em última instância, funciona como um “freio de mão puxado” para a produtividade.

A pesquisa realizada por equipes de Stanford e do BetterUp Labs revelou que 41% dos trabalhadores já se depararam com esse tipo de produção “maquiada” por IA, “custando quase duas horas de retrabalho por instância e criando problemas de produtividade, confiança e colaboração subsequentes”, diz o artigo.

Investigando a fundo o workslop

Pesquisa avaliou o impacto do workslop na maneira como a equipe se percebe • Kate Niederhoffer et al., Harvard Business Review, 2025

Não dá para dizer que o atual artigo está inventando o workslop: a prática é velha conhecida no jargão corporativo. Quem nunca viu memorandos cheios de palavras de efeito como “empowerment” e “disrupção”, ou um relatório inundado de bullet-points, que, no fundo, não dizem nada?

Como a IA generativa tem uma tendência irresistível a reproduzir o que aparece com frequência na literatura empresarial, é comum recebermos um e-mail genérico criado por IA, ou um pedido de fornecedor nessa linha. No entanto, a coisa muda de figura quando a mensagem vem de um colega, ou de um chefe.

Destinatários dessas mensagens “vazias” deram diferentes depoimentos aos pesquisadores: um chefe de departamento se dividiu entre refazer o projeto de um subordinado ou enviá-lo de volta para revisões, enquanto outros gastaram grande parte do seu tempo se preocupando em justificar um trabalho abaixo da média.

Em um desses casos, o diretor do Stanford Social Media Lab, Jeffrey Hancock, relata a reação de um gerente de projetos que recebeu um e-mail robotizado de sua supervisora: “Tive que me esforçar para fazer algo que deveria ter sido responsabilidade dela, o que atrapalhou meus outros projetos em andamento”, teria dito o executivo.

Após pesquisar empregados de 1,15 mil empresas, 40% dos entrevistados afirmaram ter recebido uma amostra de workslop de algum colega no último mês. O pior é que o fenômeno não se espalha apenas entre pares; gerentes também enviam esses relatórios vazios em todas as direções.

Portanto, embora as empresas possam estar gastando centenas de milhões em software de IA para criar eficiências e aumentar a produtividade, e incentivando os funcionários a usá-lo liberalmente, elas também podem estar criando retrabalho, confusão e perda de tempo, como se plantassem sementes de ineficiência.

Dicas para evitar o workslop

Os funcionários precisam aprender sobre comunicação interpessoal antes de se comunicarem com LLMs • Freepik
Os funcionários precisam aprender sobre comunicação interpessoal antes de se comunicarem com LLMs • Freepik

Como, em um mercado altamente competitivo, as empresas não podem se dar ao luxo de abrir mão de uma tecnologia que, segundo os autores, “pode transformar positivamente alguns aspectos do trabalho”, a solução para o problema do workslop é configurar proteções e treinar funcionários, diz o estudo.

O primeiro passo é definir quando a IA é ou não apropriada, uma espécie de “alfabetização” na qual funcionários são orientados a tratar a produção da inteligência artificial como a de um estagiário não treinado. Só conhecendo as limitações das ferramentas, as pessoas evitam confiar cegamente nas respostas.

Outra recomendação da cartilha antiworkslop é ser específico sobre quando a IA é apropriada. Para os autores: “Quando os líderes organizacionais defendem a IA em todos os lugares o tempo todo, eles modelam uma falta de discernimento em como aplicar a tecnologia”, o que se traduz em um copia e cola.

A ideia é usar a IA para polir o trabalho, não criá-lo, diz o estudo. Isso significa que os funcionários devem continuar redigindo rascunhos com informações e contexto relevantes antes de usar a tecnologia como parceira de pensamento. Os pesquisadores sugerem que a parceria homem e IA deve seguir as mesmas regras.

A dica final é investir em comunicação clara. Os autores recomendam que, antes de usar um modelo de linguagem grande, os funcionários dominem a comunicação interpessoal. A disseminação do workslop não só atrasa processos, mas destrói a confiança da equipe, com colegas perdendo o respeito uns pelos outros.

Além do custo emocional, cada ocorrência de workslop gera um custo real para as empresas de US$ 186 mensais, segundo cálculo dos autores, a partir do salário médio dos entrevistados. Em uma organização com 10 mil funcionários, isso equivale a uma perda anual de US$ 9 milhões (aproximadamente R$ 48 milhões).

 

Fonte: CNN BRASIL

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