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Racismo atinge uma em cada seis crianças no Brasil

Gisele Soares ensinou a filha Ayomí Zuhri, de 9 anos, a amar a própria história –

Olhares, brincadeiras, ausência de representatividade… Crianças pretas enfrentam o racismo cedo em suas vidas, às vezes antes mesmo de aprenderem a ler. De acordo com o Panorama da Primeira Infância – O Impacto do Racismo (Datafolha e Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal), uma a cada seis crianças de até 6 anos do Brasil já sofreu racismo e 16% das crianças nordestinas já sofreram algum tipo de discriminação.

Para mudar esse cenário, a resposta é garantir que as crianças tenham uma educação antirracista, empoderada e cuidadora das riquezas da história ancestral dos povos africanos e originários.

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Oficinas nas escolas

A cientista política Daniele Costa, chefe de gabinete na Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), entende que a escola é um espaço para interromper a construção do racismo. “Na primeira infância, isso é fundamental, para a construção enquanto ser humano que entende a diversidade do seu povo e entende as referências positivas da representatividade da cultura negra que, por muito tempo, foi marginalizada no Brasil”, explica.

Daniele pontua importancia da aplicação da lei 10.639, de 2003, que tornou obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas públicas e privadas de ensino fundamental e médio. Nesse contexto, a Sepromi realiza oficinas sobre letramento racial nessas escolas, por meio da equipe do Centro de Referência Nelson Mandela, que acolhe casos de racismo e encaminha para o sistema de justiça. “A nossa equipe atua a partir da ideia de que a formação da diversidade precisa passar pelo ambiente escolar”, explica.

Mãe de Ayomí Zuhri Soares Santana (9), a produtora cultural, professora de dança e comunicóloga em formação, Gisele Soares, afirma que é preciso trabalhar essas questões cedo. “Minha filha aprendeu a amar quem ela é, a história dela, os pais dela. Ela entendeu que não veio de pessoas escravizadas, mas de pessoas que reivindicaram sua existência. Isso muda tudo: a forma como ela se vê, como ela se posiciona, como ela sonha”, explica a mãe.

Gisele cresceu no mundo dos blocos afro e admite o imenso privilégio disso. Porém, acredita que sua trajetória teria sido diferente, mais rica e potente, se tivesse tido a educação racial que sua filha tem hoje. “Isso foi a cerca de 20 anos atrás e hoje vejo como o racismo era normalizado. Hoje enxergamos bem melhor como ele agride e afeta nossas crianças pretas dentro das escolas. A conscientização precisa ser parte da educação, não só uma conversa superficial”, afirma.

Educação antirracista

Dia após dia, a Escola Afro-Brasileira Maria Felipa – a primeira escola afro-brasileira registrada no Ministério da Educação (MEC) – promove uma educação afro-referenciada e antirracista. Os projetos são inúmeros, mas a diretora Cristiane Oliveira Coelho destaca dois: o “AfroTech”, uma feira de ciência e tecnologia que destaca inventores e inventoras negras e o “Desconstruindo Mitos sobre Intelectualidades Negras e Indígenas”, que busca romper estereótipos ao apresentar pessoas negras e indígenas como protagonistas do saber e ocupantes de espaços de poder.

“Desde cedo, as escolas convencionais apresentam às crianças uma narrativa eurocêntrica, exaltando o heroísmo e o altruísmo de pessoas brancas. O que falta é trazer as contribuições e os feitos de pessoas negras, que também são heróicas, potentes e transformadoras, e é isso que buscamos fazer. Não dá pra empoderar crianças com narrativas de subserviência. Existe Brasil antes de 1500, existe história preta antes da escravização. E é essa história que a gente conta desde os dois anos de idade, não só para crianças negras, mas também para crianças brancas”, afirma a diretora.

Mãe de Antônio Luís (11), um garoto preto, neurodivergente e aluno da Escola Maria Felipa, a professora de matemática do IFBA, Anete Cardoso Cruz, explica que só foi amadurecer para questões raciais já adulta, no doutorado, onde ouviu mulheres como a professora e escritora Bárbara Carine (idealizadora da Escola Maria Felipa) falarem sobre educação antirracista e empoderamento.

“Eu já sabia que não queria mais alisar o cabelo, mas não tinha argumentos, não sabia me posicionar. Foi no processo de adoção do meu filho que tudo se intensificou, pois percebi que as escolhas raciais estão até nesse ambiente e nos fez entender que precisávamos nos preparar para preparar Antônio. E sigo aprendendo muito com ele, pois o que a escola ensina para ele, ele ensina para mim”, afirma.



Fonte: A Tarde

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