Na obra cinematográfica “Interestelar”, o planeta Terra entra em crise quando as plantações começam a morrer, revelando a dependência humana do campo. A mensagem é clara: sem agricultura, não há futuro. No Oeste da Bahia, essa realidade se apresenta na força da cotonicultura, atividade de cultivo do algodão, que impulsiona a economia, cria rotas para diferentes histórias e garante o sustento de milhares de famílias. De acordo com estimativas da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), a Bahia é o segundo maior produtor de algodão do Brasil e, cerca de 40 mil empregos diretos, são gerados na região ligados à cotonicultura.


Além da geração de empregos, o setor também investe na qualidade da mão de obra. O Relatório de Gestão da Abapa do Biênio 2021-2022 registra que cerca de 40 mil pessoas foram capacitadas e aperfeiçoadas por meio dos programas do Centro de Treinamento da entidade nesse período, destacando o compromisso com a especialização do trabalhador rural.


O município de Luís Eduardo Magalhães-BA completa, neste ano, 25 anos de emancipação política, mesmo período desde a fundação da Abapa. De acordo com o Censo Demográfico de 2022, publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade apresentou um crescimento populacional acelerado, com uma alta de 79,5% no período entre 2010 (60.105 habitantes) e 2022 (107.909 habitantes).
O território, que antes pertencia à cidade de Barreiras, hoje é conhecido como a Capital do agro do Matopiba. Nesse cenário de desenvolvimento, o Centro de Treinamento, criado em 2010, e que fica localizado em Luís Eduardo, capacitou mais de 70 mil profissionais desde sua fundação até 2022, fortalecendo a mão de obra local.


Júlio Cézar Busato, engenheiro agrônomo e agricultor, ex-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) e da Abapa, conta como a região do Oeste baiano passou de uma aposta para uma potência nacional:
“O negócio não podia dar errado. Nós não tínhamos muita tecnologia, tivemos que criar. Trocamos muitas informações, fomos para os Estados Unidos, fomos à Austrália e trouxemos para cá vários pesquisadores que conheciam bem o algodão. Fomos desenvolvendo essa tecnologia que tanto nos orgulha hoje: alcançamos a maior produtividade de algodão não irrigado do mundo e produzimos um dos algodões de melhor qualidade em nível mundial, só perdemos para o algodão egípcio”, explica o engenheiro.


Histórias que encantam
Nascido em Formosa do Rio Preto (BA), José Roberto Barros, de 51 anos, é operador de máquinas da Fazenda Busato, propriedade agrícola associada à Abapa localizada no município de São Desidério. Zé Roberto, como é conhecido, foi um dos primeiros funcionários da fazenda.


Ele deixou sua cidade natal para trabalhar no local e, desde 1992, constrói ali sua trajetória, vendo no campo uma oportunidade de desenvolvimento pessoal. “Naquele tempo não tinha algodão, era só soja e milho. Hoje já tem e eu trabalho na área de aplicação. Quando chega o período de junho, vou para a colheita da fibra. Meu trabalho é bom, eu gosto do que faço”, compartilha o operador.


Unidos pelo algodão
O algodão marca trajetórias e desperta histórias que vão além da produção. Histórias de amor trazem aconchego, assim como a fibra. Este é o caso da jornalista Catarina Guedes. Para ela, o “céu invertido” (como se referiu) tem o poder de mudar narrativas, não só pelo que representa na economia, mas pelo que desperta nas pessoas. “Ninguém fica indiferente ao algodão”, expõe Catarina.


Para alguns, a fibra envolve somente a profissão, mas para ela, amor. Ao longo de entrevistas, conheceu um trader belga que lidava com indústrias de algodão da Ásia. Durante três anos, a profissão e a curiosidade os aproximaram, e assim começou uma história que deixou o casal “nas nuvens”. Ele veio para o Brasil, abriu uma empresa e, juntos, constroem uma história marcada por uma paixão comum: o algodão.


O que é que o algodão baiano tem?
No contexto da cotonicultura, a rastreabilidade é o método que possibilita acompanhar a origem, transparência e sustentabilidade do produto, já o beneficiamento é a transformação da matéria-prima bruta (algodão em caroço) em pluma. A qualidade da fibra está ligada à análise das características físicas da fibra após o beneficiamento.
A busca pelo aprimoramento dos processos das tecnologias torna o Centro de Análise de Fibras da Abapa o maior da América Latina e um dos mais eficientes do Brasil, segundo Relatório de Gestão 2021/2022 da Abapa. Todos esses recursos credibilizam a fibra baiana e a consolidam no mercado como um forte produto do agronegócio.


Desafios da Abrapa
Como toda entidade, a Abrapa também enfrenta desafios. Para lidar com isso, Silmara Ferraresi, diretora de Relações Institucionais da Abrapa, explica que atualmente, a associação foca na sustentação da entidade, incluindo programas de certificação e a evolução dos processos de rastreabilidade e transparência do algodão brasileiro. “Isso porque é uma cultura extremamente delicada”, compartilha.


A diretora também pontuou outro desafio: as vendas do excedente de algodão. “O Brasil produz quase 4 milhões de toneladas, e a indústria nacional consome apenas 700 mil. Para quais países vamos vender o restante e em quais dimensões?”, completou.
Contudo, assim como apresenta o filme Interestelar, sem agricultura não há futuro, e por isso, obstáculos precisam ser superados. O campo transforma vidas, fibras traçam destinos. O “céu invertido” fortalece o oeste baiano e o algodão tece histórias que vão além do que se pode imaginar.
Reportagem escrita pela estagiária de jornalismo Beatriz Rosado sob supervisão do jornalista Gabriel Gonçalves
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Fonte: Acorda Cidade