População de Salvador praticando atividade física na orla –
O hábito de praticar atividades físicas ao ar livre têm tomado as ruas de Salvador durante toda a semana, não só no final dela. Caminhadas, corridas e pedaladas não apenas fortalecem o corpo, mas também são benéficos para a mente, reduzem o estresse e melhoram o humor – porém, exigem atenção.
Casos cada vez mais frequentes de pessoas sendo atropeladas ou passando mal enquanto se exercitam nas vias urbanas têm mostrado o quanto é essencial se atentar ao seu corpo, tanto no que diz respeito à saúde, quanto na segurança ao estar lado a lado com o trânsito: se movimente, mas faça isso com atenção.
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“A atividade física regular é uma das ferramentas mais poderosas para a redução da mortalidade por todas as causas, não apenas as cardíacas”, afirma o cardiologista e médico do esporte, Eduardo Lisboa Fernandes, parte da equipe de cardiologia do Hospital Mater Dei.
“Um treino seguro segue os princípios de frequência, intensidade e volume adequados ao condicionamento atual do indivíduo, permitindo que o corpo se adapte. O risco aumenta quando há aumentos abruptos na carga de treino sem o devido preparo, ou quando se ignora a recuperação (descanso)”, explica.
Por isso, a avaliação médica prévia é fundamental e deve ser encarada como uma medida de segurança, especialmente para quem pretende sair do sedentarismo.
“Do ponto de vista fisiológico, o exercício intenso gera uma demanda maior por oxigênio e se a pessoa possui uma condição cardíaca não diagnosticada, por exemplo, esse esforço exagerado pode servir como um ‘gatilho’ para arritmias ou isquemia”, explica Eduardo Lisboa Fernandes.
E quem toma bastante cuidado com o ritmo de seu coração durante as atividades que pratica é o empresário do setor de estética automotiva, Antônio Luis Cunha (48). Ele conta que se exercita regularmente desde os 18 anos.
“Corrida mesmo eu não faço, prefiro o trote e a caminhada, porque acho que a corrida aumenta muito o batimento cardíaco. Pratico dia sim e dia não, e minha esposa, que é médica, está sempre atenta para que eu não exagere. Em casa temos aparelhos para medir pressão, batimento e eu acho muito importante manter o coração trabalhando de acordo com o exercício que faço”, conta ele, que costuma pedalar do Farol de Itapuã até o Farol da Barra.
Capacete, retrovisor, buzina, luz de sinalização, luvas e bermuda acolchoada (para manter o assento confortável), estão na lista de Equipamento de Proteção Individual (EPI) que o empresário usa quando sai com sua bike para pedalar.
“Para mim, por exemplo, o espelho retrovisor na bicicleta é fundamental, porque você precisa ver quem vem por trás e, ao mesmo tempo, estar atento ao que está na frente, além de muita atenção com os pedestres também. A verdade é que se todos fizessem sua parte, respeitando o espaço de cada um, teríamos zero acidentes”, reflete Antônio Luis.
| Foto: Clara Pessoa / Ag. A TARDE
Proteção
O uso de EPIs durante atividades físicas como pedalar e patinar são essenciais pela responsabilidade que é ‘pilotar’ pela vias urbanas designadas, enquanto divide o espaço com veículos maiores e mais rápidos.
“As principais ameaças são as manobras inesperadas de motoristas e motociclistas, a baixa visibilidade em alguns trechos, a velocidade elevada dos veículos e os conflitos em cruzamentos, que são pontos críticos de acidentes. Além disso, muitas vias têm iluminação insuficiente, calçadas irregulares ou sem continuidade, o que acaba empurrando a pessoa para a pista”, explica o engenheiro Fernando do Carmo Pereira, especialista em segurança e professor da Wyden.
A combinação de infraestrutura limitada e comportamentos imprevisíveis dos condutores deixa os esportistas mais vulneráveis, então o ideal é priorizar rotas mais seguras, como ciclovias, parques, pistas de caminhada ou avenidas que costumam ser fechadas para lazer.
“Correr fora dos horários de pico também ajuda, já que o trânsito mais leve reduz conflitos. À noite, é essencial usar roupas claras ou com faixas refletivas para aumentar a visibilidade. Também é importante evitar o uso de fones em volume alto, ter atenção redobrada em cruzamentos e, sempre que possível, correr acompanhado: grupos são mais visíveis e respeitados no trânsito”, aconselha o professor.
Parte dessa atenção deve recair também para a sua própria via – sobretudo no que diz respeito aos pedestres –, salienta o atleta e jogador de futebol no Sampaio Corrêa (São Luís/Maranhão), Yan Cristian Silva do Carmo (26). Natural de Salvador, ele sempre volta para a capital baiana nas férias, onde gosta de correr pela orla da Barra.
“A Barra me ganha pela vista e pela praia, mas é uma região muito movimentada, então os obstáculos são muitos: o trânsito, muita gente correndo em diferentes ritmos, pedalando, patinando ou só passeando. Mas com atenção é possível praticar o esporte de forma tranquila” reflete, contando que nunca sofreu algum tipo de acidente enquanto corria, mas já ouviu histórias e viu encontrões e trombadas.
“Por isso, a atenção é essencial. E tem um outro ponto: celular não combina com exercícios, só serve para marcar a quilometragem percorrida. Fora isso, é melhor deixar de lado e focar na prática. Pratico esportes desde criança e qualquer pessoa que deseja entrar nesse mundo deve ter em mente que o esporte exige atenção durante o treino, mas também acompanhamento clínico, hidratação e boa alimentação, só assim é possível melhorar a cada dia”, aconselha Yan Cristian.

Yan Cristian Silva do Carmo (26), atleta profissional, joga futebol no Sampaio Corrêa | Foto: Clara Pessoa / Ag. A TARDE
Alimentação
E aí está outro ponto extremamente importante para garantir os melhores – e esperados! – resultados após a prática de qualquer esporte: alimentação. Fazer da comida uma aliada das atividades físicas é essencial, pois negligenciar a alimentação e a reposição de nutrientes pode trazer consequências tanto para o desempenho quanto para a saúde, alerta a nutricionista Taiane Cazumbá de Souza, docente do Centro Universitário UniRuy.
“A baixa ingestão de carboidratos compromete os estoques de glicogênio, o que reduz a energia disponível e aumenta a fadiga precoce”, afirma.
Se durante a atividade física você sente cansaço, tontura, dor no peito ou até chega a desmaiar – o que não deveria acontecer! –, é hora de procurar uma avaliação.
“Se não for excesso de esforço, pode ser falta de alimentação ou hidratação adequada. E, se não for isso, pode haver algum problema cardiológico que precisa ser investigado, diagnosticado e tratado corretamente. Outro ponto é saber identificar o seu limite, que começa com reconhecer sua idade. Se você tem 40, 50 anos, é lógico que seu corpo não vai ser o mesmo de alguém de 15, 20 ou 25”, alerta o médico cardiologista Herbert Lima Mendes, professor do Instituto de Educação Médica (Idomed) da Faculdade Estácio de Juazeiro do Norte.

| Foto: Clara Pessoa / Ag. A TARDE
Além disso, a insuficiência de vitaminas e minerais como ferro, magnésio e vitamina D também pode afetar diretamente a produção de energia, imunidade e recuperação muscular.
“Treinar sem uma alimentação adequada aumenta o risco de tonturas, mal-estar, queda de performance e até lesões, já que a musculatura não dispõe dos nutrientes necessários para suportar o esforço. É importante ter refeições baseadas em alimentos naturais, preparados em casa e distribuídos ao longo do dia, evitando o excesso de ultraprocessados, que têm baixo valor nutricional e não oferecem suporte adequado”, orienta a nutricionista Taiane Cazumbá de Souza.
PRATIQUE SEUS EXERCÍCIOS CORRETAMENTE
- Pré-treino – Tudo depende do tempo disponível, tipo de treino e tolerância individual, mas opções como frutas, pães artesanais, tapioca ou tubérculos costumam ser bem aceitas;
- Horário – Evite correr nos horários de pico, já que o trânsito mais leve reduz conflitos. À noite, é essencial usar roupas claras ou com faixas refletivas para aumentar a visibilidade;
- Local – Priorize ciclovias, parques, pistas de caminhada ou avenidas que costumam ser fechadas para lazer. Fazer a atividade no sentido contrário ao fluxo da via é outra medida simples que lhe permite visualizar os veículos que se aproximam;
- Tempo – Para adultos saudáveis, pelo menos 150 minutos de atividade moderada ou 75 minutos de atividade vigorosa por semana é um bom caminho para colher benefícios;
- Pós-treino – O recomendável é combinar carboidratos com fontes de proteína, então opte pelos tradicionais arroz, feijão, ovos, carnes magras, frutas e legumes, sempre respeitando as necessidades individuais.
Fonte: A Tarde