Luiza Helena Trajano fala sobre política e autoestima do Brasil

Criar soluções próprias para driblar a burocracia e a insegurança ou sucumbir aos entraves estatais. Esse foi o recado dado por empresários durante o 12º Congresso Nacional Moveleiro, realizado pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), em Curitiba.

Receba as principais notícias do Paraná pelo WhatsApp

“Quem gera riqueza são os CNPJs, não o governo” alertou Vasconcelos. Enquanto o presidente da federação, Edson Vasconcelos, denunciou que o Custo Brasil de R$ 1,7 trilhão está inviabilizando a indústria nacional, Luiza Helena Trajano evidenciou como a iniciativa privada se reinventa: o Magazine Luiza desenvolveu a primeira nuvem 100% brasileira para fugir da dependência do dólar e proteger dados.

A empresária detalhou um dos movimentos mais aguardados do varejo: a Galeria Magalu, megaloja que será inaugurada em dezembro no Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, no espaço da antiga Livraria Cultura, na capital de São Paulo. O espaço será, segundo ela, um encontro entre o físico e o digital.

“Tudo o que está no site estará lá, mas de forma inovadora. Vai ser um lugar de lazer, entretenimento e consumo. É o primeiro espaço físico do YouTube no mundo, depois de Los Angeles”, destacou.

Pós-pandemia e transformação do consumo

Luiza Helena Trajano também destacou as mudanças de comportamento aceleradas pela pandemia de Covid-19. Para ela, o período reforçou a busca por conforto dentro de casa, com impacto direto na indústria moveleira. “As pessoas querem ambientes mais claros, práticos, cozinhas funcionais e espaços para reunir a família. O brasileiro gosta de estar em casa, e isso é muito bom para o setor de móveis”, afirmou.

Ela lembrou que a crise sanitária trouxe reflexões importantes. “O jovem de hoje não quer apenas um emprego. Ele busca qualidade de vida e propósito. As empresas precisam entender que houve uma grande transformação de comportamento e que o consumo agora é muito mais consciente e voltado para dentro de casa e para si mesmo”.

No campo tecnológico, a empresária destacou a criação da primeira nuvem brasileira própria, desenvolvida pelo Magalu para reduzir custos e garantir segurança de dados. “Hoje, 40% do nosso faturamento já está na nossa cloud (computação em nuvem). Ela é totalmente nacional, paga em real e mantém as informações no Brasil. Isso é um diferencial para empresas que não querem depender do dólar nem correr riscos de segurança”, explicou.

“Quando defendo o Bolsa Família, dizem que sou de esquerda; quando falo de privatização, que sou de direita”, diz Luiza Trajano

Luiza Helena Trajano também comentou que foi sondada para buscar cargos públicos, mas recusou. “Já me convidaram para ser senadora e até vice-presidente. Mas eu nunca aceitei, porque não sou filiada a partido. Eu acredito que são as políticas públicas que mudam o país”, disse.

Apesar de manter distância das disputas eleitorais, Trajano reforçou a importância da mobilização social. “Quando defendo o Bolsa Família, dizem que sou de esquerda. Quando falo de privatização, dizem que sou de direita. Eu acredito é na sociedade civil. Por isso criamos o Grupo Mulheres do Brasil, que reúne mais de 135 mil participantes e atua em 18 causas diferentes”.

Ela pediu mais confiança no país. “O Brasil tem o melhor sistema bancário do mundo e o SUS, que é referência. Se não quiser falar bem, pelo menos não fale mal do Brasil. Precisamos resgatar a autoestima do brasileiro. Sem isso, não avançaremos”, opinou Luiza Helena Trajano.

Presidente da Fiep critica entraves internos e cobra medidas ao tarifaço

O presidente da Fiep, Edson Vasconcelos, voltou a criticar o tarifaço imposto pelos Estados Unidos a produtos exportados pelo Brasil. “Não há inteligência nessa burrice. Nossa indústria foi atropelada. Precisamos reforçar as cadeias de resiliência e buscar novos mercados para sobreviver a esse cenário”, afirmou.

Para o dirigente, os problemas internos são tão graves quanto os externos. “Temos a maior carga tributária entre os emergentes e um Custo Brasil de R$ 1,7 trilhão. A nossa estrutura energética não permite automatizar processos e a falta de crédito inviabiliza investimentos em tecnologia. O governo não gera riqueza. Quem gera são os CNPJs, e precisamos de condições para que eles prosperem”, alertou.

“O governo não gera riqueza. Quem gera são os CNPJs, e precisamos de condições para que prosperem” disse Edson Vasconcelos, presidente da Fiep. (Foto: Gelson Bampi/Fiep)

O presidente da Fiep também criticou o ambiente político. “Está errado priorizar campanha eleitoral em vez de políticas para a indústria. Precisamos de seriedade. Não tenho problema em cobrar governos, mas o que está errado é errado. Nosso dever é defender as empresas que geram emprego e renda”, reforçou.

Apesar das críticas, Vasconcelos destacou o papel do Congresso Nacional Moveleiro como espaço de diálogo e soluções. “Eventos como este mostram que o setor é resiliente e capaz de inovar, mesmo diante das dificuldades. É a união das entidades e das empresas que vai permitir que o Brasil encontre novos caminhos”, disse.