HomeNotíciasErro na destilação pode contaminar bebidas com metanol, aponta especialista

Erro na destilação pode contaminar bebidas com metanol, aponta especialista

O Brasil já registra, até esta sexta-feira (3), 11 casos confirmados e 48 sob investigação de intoxicação por bebidas adulteradas com metanol, segundo o Ministério da Saúde. A maioria das ocorrências está concentrada em São Paulo, mas há também registros em Pernambuco e um caso em apuração no Distrito Federal. Uma morte foi confirmada e outras sete são investigadas pelas autoridades de saúde.

O professor Thiago Correra, especialista em química pela USP (Universidade de São Paulo), explica que a contaminação pode ocorrer durante a destilação, processo químico usado na produção de algumas bebidas alcoólicas.

“Como o metanol é mais volátil, ele evapora primeiro nesse processo. A primeira fração que condensa — chamada de ‘cabeça’ da destilação — pode ter um pouco de etanol, mas é muito mais rica em metanol, e essa fração deve ser descartada. Se a destilação não for bem feita ou não for bem controlada — como ocorre em produções clandestinas — a separação pode falhar”, afirma.

Ele também explicou que o metanol e o etanol têm fórmulas químicas semelhantes, mas efeitos distintos no organismo após serem metabolizados: o acetaldeído do etanol está relacionado à ressaca que você sente, enquanto o formaldeído do metanol provoca outros efeitos, bem mais tóxicos. Isso acontece porque o organismo não consegue escolher qual das duas moléculas vai metabolizar.

Ainda segundo o químico, mesmo pequenas quantidades de metanol podem se misturar totalmente em bebidas de base aquosa, como cerveja, vinho ou destilados.

“Qualquer bebida que tenha água como base, como a cerveja, se receber uma pequena quantidade de metanol, apresentaria o mesmo efeito que eu mostrei: ele se solubiliza em uma única fase”, explica o professor.

Os relatos de vítimas reforçam a dificuldade de identificar alterações, além do gosto, as mudanças de viscosidade ou densidade em uma bebida são difíceis de perceber, já que o teor de outros componentes também varia. Correra aponta que se a bebida tiver açúcar, corantes ou outros ingredientes, fica ainda mais complicado notar.

“Por isso é importante usar produtos e processos de fornecedores confiáveis: na produção clandestina o risco de contaminação por metanol é maior”, conclui Correra ao dizer que a forma mais segura de se proteger é comprar destilados de locais confiáveis e fiscalizados.

Total de casos

Até o momento, o CIEVS (Centro Nacional de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde) recebeu a notificação de 43 casos por esse tipo de intoxicação. Destes, 39 casos foram em São Paulo, com 10 confirmados e 29 em investigação, e 4 casos estão em investigação em Pernambuco.

Em São Paulo foi confirmado um óbito. Outras cinco mortes estão sendo investigadas. Já em Pernambuco, duas mortes são investigadas. A investigação dos casos em São Paulo está sendo conduzida pela Polícia Federal em conjunto com os órgãos de controle e vigilância.

“Nós estamos diante de uma situação anormal e diferente de tudo o que consta na nossa série histórica em relação à intoxicação por metanol no país. A entrada da Polícia Federal no plano se deve à suspeita de envolvimento de uma organização criminosa relacionada à adulteração de bebidas”, reforçou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.

O caso é considerado suspeito quando o paciente, que ingeriu bebida alcoólica, apresenta a persistência ou piora de sintomas, como embriaguez persistente, desconforto gástrico e alteração visual, entre 12 horas e 24 horas após o consumo.

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Antídoto para a intoxicação

O etanol produzido por laboratórios ou farmácias de manipulação, em grau de pureza adequado para uso médico, é o antídoto específico para os casos confirmados de intoxicação.

Quando há necessidade clínica, o CIATox (Centro de Informação e Assistência Toxicológica) ou as secretarias de saúde solicitam a manipulação do produto. A administração é sempre controlada e de forma intravenosa ou oral

O Brasil conta com 32 CIATox, centros de referência especializada em toxicologia para orientação, diagnóstico e manejo de intoxicações. Em São Paulo, há 9 centros.

Orientação aos estados

O Ministério da Saúde enviou, nesta terça-feira (30) uma nota técnica orientando os estados e municípios a notificarem imediatamente todas as suspeitas relacionadas a esse tipo de intoxicação. A medida busca reforçar a vigilância e a resposta a casos suspeitos.

“Essa determinação é para que possamos identificar mais rapidamente não só o que está acontecendo no estado de São Paulo, mas também possíveis intoxicações em outros estados do país, a partir de comportamentos clínicos e epidemiológicos anormais”, destacou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.

A intenção é estimular a identificação do local onde o produto foi consumido para mapear os locais e acionar os órgãos de segurança. Além disso, a medida visa garantir o cuidado adequado às pessoas e orientar os profissionais de saúde.

Fonte: CNN BRASIL

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