HomeNotíciasCrise do metanol derruba faturamento de bares

Crise do metanol derruba faturamento de bares

Em meio à crise da contaminação por metanol de bebidas alcoólicas falsificadas ou adulteradas que assola o estado de São Paulo — onde pelo menos cinco mortes já foram confirmadas — e se espalha para outras regiões do país, os consumidores têm se afastado dos bares e evitado as bebidas destiladas como um todo. O setor tem sentido os efeitos da crise instaurada nas duas últimas semanas.

De acordo com a Federação de Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado de São Paulo (Fhoresp), existe uma queda no movimento dos estabelecimentos de todo o estado que varia de 20% a 30%, desde o início da crise causada pela falsificação de bebidas com contaminação por metanol. O prejuízo na venda de bebidas destiladas como vodca, uísque, cachaça e gin chega a 50%.

Em estabelecimentos especializados nestes tipos de bebidas como principal fonte de receita, esse valor pode passar da metade. O levantamento foi feito ao longo da última semana junto a 20 sindicatos do setor filiados à Fhoresp. De acordo com a entidade, as projeções de prejuízo ainda estão sendo calculadas.

Segundo levantamento da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de São Paulo(Abrasel-SP), divulgado na terça-feira (7), o segmento específico dos bares foi o que mais sofreu, com queda de faturamento de até 50% no primeiro final de semana após o estouro e amplo conhecimento da crise do metanol pelo público consumidor.

VEJA TAMBÉM:

  • Alerta sobre falsificação de bebidas foi ignorado por autoridades seis meses atrás

Cresce a venda de cerveja, vinho e bebidas sem álcool

A Associação Paulista de Bares, Restaurantes, Eventos, Casas Noturnas, Similares e Afins (Apressa) constatou que alguns bares na capital paulista chegaram a registrar uma queda de até 80% na venda de bebidas destiladas. Por outro lado, houve crescimento na venda de cervejas, vinhos e bebidas sem álcool.

“Estamos vivendo um momento único em nosso país, no qual a falsificação de bebidas passou de uma fraude fiscal para um grave problema de saúde pública”, afirma à Gazeta do Povo Edson Pinto, diretor-executivo da Fhoresp. “Infelizmente, já há casos de mortes e sequelas irreversíveis em pessoas que, inadvertidamente, ingeriram bebida falsificada. Estamos trabalhando para que os órgãos competentes consigam desarticular as quadrilhas e estancar a crise, que já deixa rastros na economia do setor.”

Passa de 200 o número de registro de notificações por intoxicação por metanol, até o início da semana, a maior parte delas ainda em análise em todo o país, de acordo com informações divulgadas pelo Ministério da Saúde. De acordo com o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite (Progressistas-SP), 17 locais estão em investigação por possível envolvimento nos casos de contaminação de bebidas alcoólicas por metanol no estado — destes, 11 estabelecimentos foram interditados cautelarmente, incluindo bares, adegas e distribuidoras.

“Dá medo, quem é que tem coragem de arriscar?”, pergunta o porteiro Luiz Gustavo da Silva, de 34 anos, enquanto tomava uma cerveja em um pequeno bar próximo ao metrô Santos-Imigrantes, em São Paulo, no início da noite de quarta-feira (8). “Normalmente eu peço um ‘rabo de galo’ ou uma cachacinha para descer junto antes de ir pra casa, depois do expediente, mas hoje vai ficar só na cervejinha mesmo”, conta à reportagem da Gazeta do Povo.

Lúcio Gardoau, dono do bar, explica que compra todas as bebidas destiladas servidas em um grande e famoso mercado atacadista próximo do local e tem as notas fiscais embaixo do balcão para comprovar, mas mesmo assim sentiu a queda no interesse dos fregueses pelos destilados.

“Tem umas cachaças artesanais que estão abertas faz tempo e os clientes que conhecem elas continuam tomando sem medo”, ele afirma. “Mas vodca, uísque, caipirinha e essas coisas está difícil, quase não saiu nenhum drinque essa semana”, lamenta.

VEJA TAMBÉM:

  • Antídoto Metanol

    O que é e como funciona o antídoto do metanol

Copo meio cheio 

De acordo com a Fhoresp, o impacto foi maior nos primeiros dias da crise, e nos últimos dias se verifica também que o faturamento de bebidas destiladas está sendo aos poucos substituído pela receita advinda de outras bebidas que não sofrem tanto o impacto desta crise, como vinhos, cervejas e bebidas não alcoólicas.

A pesquisa da Abrasel-SP reforça a percepção de “copo meio cheio” na crise do metanol: 74% dos estabelecimentos mantiveram o faturamento no primeiro fim de semana após a grande repercussão do caso, considerando bares e restaurantes.

Entre os estabelecimentos pesquisados, na abrangência de todo o setor, apenas 26% relataram queda nas vendas, concentrada principalmente em bares que dependem mais da comercialização de bebidas destiladas. “O setor reagiu de forma rápida e responsável, reforçando a comunicação com os clientes e adotando medidas de segurança nas compras”, afirma Gabriel Pinheiro, diretor da Abrasel-SP.

De acordo com a pesquisa, o impacto foi pontual: os consumidores migraram para cervejas, vinhos e bebidas sem álcool. Restaurantes, pizzarias e lanchonetes apresentaram estabilidade ou crescimento em 78% dos casos, enquanto metade dos bares manteve o equilíbrio nas vendas. 

Apesar disso, não há motivos para comemoração. “Mesmo que ainda não haja números que comprovem a queda no consumo em bares e restaurantes, é fato que a situação tende a desacelerar o consumo, impactando a economia em escala ainda maior”, afirma o presidente da Abrasel-SP, Roberto Mateus Ordine.

Fonte: Gazeta do Povo

Notícias Relacionadas

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

- Publicidade -spot_img
- Publicidade -spot_img

veja +