Uma ideia revolucionária de negócio criada por um baiano de Feira de Santana está fazendo sucesso na capital paulista (SP): uma sorveteria que foge do novo convencional, trazendo em seu cardápio, os sabores e combinações tipicamente brasileiras. O resultado de tudo isso? Os clientes fazem fila.
O empresário Anderson Maciel Boeira, 44 anos, contou ao portal Acorda Cidade, que deixou a Princesa do Sertão para morar em São Paulo em 2012. Na época, a profissão primária era desenvolvedor de interfaces, função que ele chegava a dedicar entre 10 e 12 horas de trabalho diário.
Já no sudeste do país, sentiu que era a hora de mudar os rumos profissionais. A gastronomia possui uma dinâmica diferente da profissão anterior, envolvendo inclusive o trabalho braçal, então, Anderson percebeu que precisava se profissionalizar para seguir na área.
A princípio, em 2018, veio a primeira experiência. Um restaurante de comida nordestina chamado Cangote.
“Foi muito na empolgação e sem experiência na área de alimentação. Já tinha feito alguns cursos rápidos que iam de padaria profissional até comida de boteco, mas o restaurante foi realmente uma primeira vivência e me ajudou muito para desenvolver o projeto da sorveteria mais redondo”, explicou.
Um tempo depois, o restaurante acabou sendo fechado, mas Anderson não desistiu do sonho de empreender utilizando o conhecimento preliminar na culinária. Em 2022, iniciou o projeto da sorveteria que leva o mesmo nome do restaurante.
A Cangote Sorvetes era tocada inicialmente apenas pelo proprietário. Devido à falta de capital para investimento, ele tinha que se dividir entre produção, atendimento, financeiro e limpeza da unidade.
“Eu chegava às 7h para fazer sorvete, abria a casa às 12h e fechava às 18h. Depois ficava limpando e fazendo o pré-preparo para o próximo dia. Fiquei assim por algumas semanas até atender, em um único dia, 200 pessoas. A partir daí, comecei a entender melhor que o negócio estava girando e fui contratando conforme demanda. Hoje já tenho 5 funcionários contratados e estou em obras para uma nova filial aqui no centro de São Paulo”, contou o empreendedor ao Acorda Cidade.
A escolha do nome foi aliada à mensagem que ele queria passar em ambos os negócios, com o ideal de aconchego que é um princípio, não apenas da culinária, mas do jeito nordestino de ser.
“O nome Cangote foi também o nome do restaurante, eu sempre quis uma marca que levasse uma identidade nordestina, mas sem ser clichê demais. Cangote é um termo bastante conhecido e um dos usos deles se refere a um local aconchegante e gostoso de ficar. Eu amo esse nome e até registrei a marca”.
Sabores da brasilidade
O que chama atenção e torna o negócio um sucesso são os sabores, que divergem do comum e do gourmet. Os sorvetes trazem o paladar tradicional das frutas típicas no Brasil e de regiões específicas como cajá, acerola, ciriguela.
“Os 3 carros chefes são cajá, tapioca e nata-goiaba. Temos alguns especiais que fazemos também como queijo coalho, torta búlgara, caju com cachaça e, quando está na época, pitanga”, declarou Anderson.
Os mix de sabores também fazem a diferença no cardápio, o leque é extenso e está em constante ampliação.
“Sempre estamos ampliando e testando novas receitas, mas nunca saímos do contexto de regionalidade e brasilidade. Aos poucos fomos ‘saindo’ do nordeste e fomos para o norte, trazendo sorvetes de açaí, cumaru, cupuaçu e bacuri. Além das frutas típicas de todo o Brasil, nós também estamos explorando a confeitaria brasileira e criando sorvetes de pé de moleque, mungunzá, torta búlgara e outros mais por vir”.
Um dos diferenciais da marca é justamente a busca contínua pela inovação usando os “frutos da terra”, e priorizando a agricultura familiar, fonte de renda de muitas pessoas no Brasil. A prioridade da cadeia de produção, segundo o empresário, são produtos orgânicos de produtores cooperativos.
“Aqui a gente pensa que essas escolhas valorizam toda a cadeia de produção. Reforçam e apoiam toda a cadeia econômica de alimentos de qualidade. O nosso produto é um sorvete verdadeiramente artesanal, feito apenas com insumos naturais e sem adições de aditivos ou saborizantes que são muito comuns na indústria do sorvete”.
Mesmo alcançando um negócio consistente, os desafios do empreendedorismo continuam. Ao fechar o primeiro restaurante, as dívidas ficaram. Quando abriu a sorveteria, Anderson se recuperou financeiramente, mas as restrições adquiridas na outra época ainda atrapalham a aquisição de crédito.
“Todas as instâncias de governo falham com os pequenos empreendedores porque estão injetando todos os recursos possíveis em isenções fiscais em grandes indústrias, que empregam pouco e não entregam nada em troca”
Apesar dos obstáculos, há brilho nos olhos pelo resultado adquirido com uma ideia de negócio 100% nacional.
“A maior vitória é quando seu negócio dá certo em todos os sentidos possíveis. Dinheiro no bolso é ótimo, mas ter uma equipe crescendo junto também é excelente. Saber que estamos estimulando uma pequena cadeia de produtores que estão lutando para fazer o cajá, ciriguela e mangaba mais reconhecido no Brasil todo também é parte da vitória do empreendedorismo”, celebrou.
O próximo passo é a abertura de uma segunda unidade, uma filial no centro histórico de São Paulo. A atual unidade fica na rua Aureliano Coutinho (SP).
Com informações da jornalista Daniela Cardoso do Acorda Cidade
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Fonte: Fala Genefax
