O Mato Grosso do Sul é o maior polo brasileiro da produção de carne e couro de jacaré. A atividade avança sob normas ambientais rígidas e abastece mercados nacionais e internacionais. Em Corumbá, região sul do estado, uma fazenda mantém mais de 80 mil animais e concentra todas as etapas do processo: coleta de ovos, recria, engorda, abate e processamento.
A procura por carne de jacaré cresceu 15% no último ano, segundo o Good Food Institute, órgão dedicado à inovação em proteínas alternativas. O indicador aponta que a maior procura está atrelada à qualidade da proteína.
A carne de jacaré concentra alto teor de proteínas, poucas calorias e baixo índice de gordura, uma alternativa nutritiva para quem adota dieta equilibrada. Além disso, reúne minerais essenciais, como ferro e cálcio, que fortalecem ossos e músculos.
Um estudo do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Mato Grosso indica que a carne de jacaré do Pantanal apresenta baixo teor de colesterol, variando de 42 a 47mg/100g de carne. A carne bovina tem em média entre 70 e 100mg/100g.
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Brasil exporta carne e couro de jacaré para EUA, Europa e México
Os preços chamam atenção. No Brasil, a média do quilo da carne, congelada, é de R$ 90. Cortes como filé da calda, filé de lombo e coxa podem chegar a até R$ 180 o quilo. Os dados são do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
E não é só a carne exótica que movimenta o mercado. O Brasil sustenta o segmento de luxo do couro de jacaré. Estados Unidos, Europa e México são importadores. De acordo com a Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul (Famasul), o valor médio pago em dólar pelo quilo do couro de jacaré no mercado internacional, entre janeiro e agosto deste ano, foi 83% superior a 2024, com o equivalente a US$ 51,98/kg.
De acordo com o Sistema de Estatísticas de Comércio Exterior do Agronegócio (Agrostat), de janeiro a agosto de 2024 foram comercializados 8.738 quilos de couro de jacaré, em um total de US$ 247.550. Já entre janeiro a agosto deste ano houve uma queda na exportação. Foram 2.899 quilos, em um valor total de US$ 150.688.
Maior produtora de carne e couro de jacaré do mundo está no MS
Em Corumbá, a fazenda e agroindústria Caimasul lidera a produção mundial de carne e couro de jacaré, segundo a Famasul. Abriga 80 mil exemplares da espécie Caiman yacare, ou jacaré-do-pantanal — e possui capacidade para 240 mil. A propriedade ocupa 150 hectares e integra todas as fases da criação, do ovo ao produto final. A produção mensal é de 2 toneladas de carne.
Os jacarés recebem dieta balanceada com proteínas animais e minerais. Segundo Eduardo Borges, o veterinário responsável pela Caimasul, esse manejo garante carne macia e couro de alto padrão, reforçando a diferença frente ao abate ilegal.
As baias climatizadas mantêm a água entre 27°C e 30°C. Além disso, o sistema reaproveita recursos hídricos em bacias de decantação, fortalecendo a sustentabilidade. “O ciclo dura dois anos, mas a partir de 18 meses já temos animais em tamanho de abate”, explica o veterinário.
Os cortes mais valorizados incluem filé de cauda, ponta de cauda, lombo, coxa e iscas. O couro segue para exportação. Já vísceras e ossos se transformam em ração. “O aproveitamento é total. Até a carne mecanicamente separada vira embutidos, hambúrgueres e linguiças”, detalha Borges.

Sistema de produção é oportunidade para os ribeirinhos
A criação de jacaré adota os sistemas ranching e farming. No primeiro, ovos são coletados em áreas monitoradas, sem prejuízo à reposição da espécie. No segundo, a reprodução ocorre em cativeiro, com matrizes próprias.
Esse modelo promove renda para ribeirinhos e fazendeiros. “Pagamos por cada ovo coletado em propriedades rurais. Assim, levamos renda e incentivamos a conservação da espécie. Dependendo da quantidade, o ribeirinho pode receber até R$ 5 por ovo coletado”, afirma Borges.
O manejo é fiscalizado pelo Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) e pelo Ministério da Agricultura e Pecuária. “Durante a coleta, equipes utilizam celulares com o aplicativo instalado. Assim, ao localizar o ninho, o sistema informa automaticamente se a área está autorizada. Em seguida, o coletor registra localização, quantidade de ovos e características do ninho. O órgão ambiental acessa esses dados em tempo real, garantindo fiscalização precisa e rigorosa do processo”, diz o gerente da Caimasul, Carlos Murilo de Araújo Pierazzoli.
De acordo com ele, animais extraídos da natureza, em abate clandestinos, geralmente são animais adultos, matrizes e não possuem a mesma qualidade alcançada em cativeiro. “Esses animais são bastante grandes, então possuem a carne com sabor mais forte e muito mais dura, resistente e por isso só a cauda do jacaré é utilizada. O mesmo acontece com o couro, que geralmente não é aproveitado e, quando é, só uma pequena parte”, explica.
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Regulamentação de produção de carne de jacaré é rígida no Brasil
A criação de jacaré exige manejo especializado, com controle permanente de temperatura e umidade. O setor segue regras do Ibama e do Ministério da Agricultura, que concedem licenças específicas para assegurar o bem-estar dos animais e o cumprimento das exigências sanitárias.
O selo do Ministério da Agricultura é obrigatório para exportação. O documento referencia a uma origem legal e à qualidade da carne, além de agilizar liberações alfandegárias. A comercialização é autorizada apenas quando o manejo é sustentável e regulamentado.
Para atender mercados específicos, frigoríficos precisam de certificações adicionais. Os Estados Unidos, por exemplo, exigem o Certificado do USDA. O documento comprova que a carne de jacaré brasileira cumpre as normas e pode chegar ao consumidor norte-americano.
“As normas sobre bem-estar animal são rigorosas e determinam todas as etapas, desde a criação até o abate humanitário dos jacarés. Por isso, cumprimos integralmente essas regras, investimos em pesquisa e promovemos melhoria contínua dos processos. Além disso, qualificamos constantemente os colaboradores para que os animais não tenham sofrimento desnecessário”, diz o gerente.
Fonte: Gazeta do Povo