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Bahia será protagonista do desenvolvimento sustentável

Areia de sílica, em Belmonte, apresenta alto nível de pureza, ideal para a produção de vidro solar –

O presidente da maior potência do mundo pode até dizer que é um erro, mas a transição energética e a substituição da queima de combustíveis fósseis por matrizes de energia limpa e sustentável são uma realidade cada vez mais palpável e quem não enxergar isso ficará para trás.

Sol e vento estão entre as principais alternativas para suprir a crescente demanda energética, mas, em ambos os casos, os minerais são indispensáveis para expandir a oferta. É aí que a Bahia se destaca.

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Além do vento e do sol, o estado é rico em minerais estratégicos e está atraindo investimentos para transformar toda essa riqueza natural em investimentos, empregos e desenvolvimento de tecnologia.

Um dos principais exemplos é a Homerun, empresa canadense que há 3 anos descobriu no município de Belmonte a existência de uma areia com característica única e baixo teor de contaminante metálico, do ferro em particular.

Em dezembro de 2023, a empresa assinou contrato com a Companhia Baiana de Produção Mineral (CBPM) para exploração da areia de sílica na jazida de Santa Maria Eterna. Com investimento de R$ 1,8 bilhão, a Homerun já tem entendimentos com o BNDES para aportar mais US$ 100 milhões, o que deve ultrapassar os R$ 2,3 bilhões investidos.

A empresa aguarda apenas a doação de um terreno para iniciar a construção da planta da primeira fábrica de vidro solar do ocidente, com a geração de até 2 mil empregos durante a implantação e 600 empregos fixos a partir do início da operação.

Pureza que desafia a China em vidro solar

As reservas de sílica de Belmonte são conhecidas há décadas. O Gerente de geologia básica e aplicada da CBPM, Williame Cocentino, relata que, “desde as décadas de 1970, 1980, já sabia da existência desses depósitos, só que a gente não tinha tecnologia suficientemente avançada, que conseguisse transformar aquela areia com 99,9999% de pureza de silício“.

O geólogo lembra que o material extremamente valioso era usado no acabamento de pisos cerâmicos e em vidros de perfume. Foi a partir das pesquisas e do projeto apresentado pela CBPM à Homerun que a ideia da fábrica surgiu. “Eles tinham o processo, a gente tinha o minério, juntou a fome com a vontade de comer”, avalia Cocentino.

A pureza encontrada na sílica de Belmonte é um dos diferenciais que posicionam a Bahia como grande polo de transição energética.

Vai ser a primeira fábrica de vidro solar fora da China e da Índia

Armando Farhate – diretor de operações da Homerun

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Para se ter ideia do potencial da futura fábrica, a Homerun anunciou um acordo de compra não vinculativo com a Brasil Fotovoltaico para fornecer um volume anual mínimo de 180 mil toneladas de vidro solar fabricado em Belmonte.

“Um consultor alemão afirmou que se a areia tiver 40 ppm (partes por milhão) de ferro é excelente, eu disse você não entendeu, não é 40 (forty, em inglês), é 14 (forteen) ppm. Ele quase caiu da cadeira”.

A principal característica exigida do vidro solar é que tenha a maior transparência possível e o contaminante metálico aumenta a opacidade, explica Farhate. “Quanto maior a transluminescência, maior a eficiência do painel solar, acima de 91%”, acrescenta.

Reação em cadeia

Se a sílica de Belmonte pode potencializar a produção de energia solar, a chegada de outros empreendimentos, como a montadora de carros elétricos chinesa BYD, aumenta a demanda por baterias e minérios capazes de prolongar sua vida útil. Como o níquel sulfetado, presente na mina Santa Rita, em Itagibá.

A Appian Capital Brazil, fundo de investimento privado especializado em mineração, há cinco anos opera a Atlantic Nickel, de onde já exportou mais de 483 mil toneladas secas de concentrado de níquel sulfetado para a China, Canadá e Finlândia.

Exploração de níquel em Itagibá gerou 8 mil empregos, entre diretos e indiretos, nos últimos cinco anos | Foto: Divulgação

Com 6 mil empregos indiretos e 2 mil empregos diretos, a empresa investiu mais de R$ 20 milhões nas suas operações.

Trouxemos prosperidade econômica para a região e transformamos positivamente a vida das pessoas que moram no entorno e cidades vizinhas

Paulo Castellari – executivo-chefe da Appian

Estocando vento

Mas não é apenas o níquel que desperta o interesse da indústria de baterias. O vanádio, presente no município de Maracás, está presente nas baterias utilizadas nos aerogeradores devido à sua grande capacidade de armazenamento de energia eólica.

Essas baterias, que garantem o fornecimento de energia mesmo em tempos de menor geração, acabam com o meme que tomou conta das redes sociais há alguns anos e confirmam a previsão da ex-presidente Dilma Roussef. Com as baterias de vanádio é possível ‘estocar o vento’.

Vanádio em Maracás aumenta a capacidade de armazenamento de energia

Vanádio em Maracás aumenta a capacidade de armazenamento de energia | Foto: Divulgação

“Dilma estava certa e ninguém entendeu o que ela queria dizer”, comenta Williame Cocentino, geólogo da CBPM. Ele destaca o papel da companhia que, através da pesquisa, ajuda a atrair investidores, sempre com foco no desenvolvimento local.

“Nosso papel é diminuir o risco do investidor. Ele não compra uma área que pode ter um depósito, ele já quer se instalar. A gente quer ir além, ajudar a produzir, dar suporte, desde que traga benefícios como emprego e desenvolvimento”, resume Cocentino.

Um exemplo desse investimento é a consultora multinacional de gestão, Alvarez&Marsal. Rafael Marchi, sócio-diretor para mineração da empresa, destaca o investimento da Energy Fuels na aquisição de uma área no extremo sul da Bahia, rica em minerais estratégicos e terras raras.

“A vantagem aqui é que você tem um tipo de areia, um tipo de minério, que é de baixo custo de extração. Quando você pega ali, o ativo que foi vendido para a Energy Fuels, ele é um ativo muito próximo da costa, é uma areia muito rasa, né? É um tipo de mineração que ele é relativamente barato”.

Marchi também chama atenção para o esforço do Governo da Bahia em trazer a BYD e, por tabela, a instalação de uma fábrica de baterias. “É um passo super relevante para essa transição energética e para industrializar o minério”, avalia.

Ferro verde

E não são apenas os minérios voltados para produção e armazenamento de energia que projetam um horizonte de prosperidade para a Bahia. A produção de aço também passa por grandes transformações para se adequar às novas exigências globais de redução nas emissões de carbono.

Com atuação nas cidades de Piatã, Abaíra e Jussiape, a Brazil Iron busca ser líder global na descarbonização da indústria siderúrgica e posicionar a Bahia como um centro de excelência na produção de ferro verde.

Se fizer comparação, de tudo que se produz de CO2 no mundo todo, 8% vem da produção do ferro e do aço. A gente precisa descarbonizar essa indústria, com isso vai ter um impacto global muito grande na redução de CO2 na atmosfera. Para isso precisa aço verde, produzido 100% a partir de energia renovável

Emerson Souza – vice-presidente de Relações Institucionais da Brazil Iron

O Projeto Ferro Verde tem como objetivo abastecer a indústria de aço verde com matéria-prima produzida a partir de fornos elétricos a arco (FEA´s), com energia 100% renovável, em lugar dos fornos a carvão.

Nos próximos cinco anos, a empresa investirá mais de US$ 5,7 bilhões na produção de ferro verde. O projeto inclui 16 km de correias de transição que substituem caminhões no transporte do minério, a partir de uma esteira com cobertura e aspersão de água, o que evita o lançamento de poeira no entorno.

“Esse processo atinge 70% de redução de emissão de CO2 (gás carbônico)”, destaca Emerson. Os 30% do carbono gerado são capturados com o plantio de mudas, gerando um saldo líquido zero de gases de efeito estufa.

Mais uma vez, o minério explorado na Bahia oferece vantagens muito competitivas. Segundo Emerson, apenas 3% das reservas do mundo tem um minério de alta pureza e mais maleável, como o encontrado nas jazidas baianas.

A exploração dessa riqueza, projeta Emerson Souza, “vai transformar a condição econômica do estado sem sombra de dúvida”, gerando 55 mil empregos durante a implantação, sendo 20 mil empregos permanentes.

A previsão é de começar a produzir a partir de 2030, mas, desde já, os primeiros 10 anos de produção estão vendidos pela bagatela de US$ 30 bilhões, mais de R$ 150 bilhões. “

A Bahia ocupa um protagonismo absurdo, nosso projeto vai ser certamente o primeiro do país e provavelmente de todo o continente americano

Emerson Souza

“É a tempestade perfeita, grande produção de energia limpa, grande capacidade mineral, demanda mundial, reunião do que há de mais avançado em termos de tecnologia e expertise na área em um projeto na Bahia”, acrescenta o executivo.



Fonte: A Tarde

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