Augusto Vasconcelos, secretário do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte –
O 2º Festival Nacional de Artesanato da Bahia (Fenaba) promete transformar a Arena Fonte Nova em um grande palco de cultura, tradição e economia criativa entre quinta-feira e domingo desta semana (9 a 12 de outubro). Com expectativa de mais de 30 mil visitantes, o festival amplia a comercialização e dá visibilidade a artesãos da Bahia e de 17 outros estados brasileiros.
“Quem for à Fenaba vai se surpreender. Teremos, além da força do artesanato baiano, também uma presença significativa de outras linguagens culturais”, afirma Augusto Vasconcelos, secretário do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte, nesta entrevista exclusiva ao A TARDE.
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Segundo ele, além da comercialização de peças, o festival contará com shows, debates, literatura e atividades educativas. “O principal é colocar luz nessa construção coletiva que é o artesanato da Bahia, resgatando a ancestralidade e a potência criativa da nossa população”, destaca o secretário. Saiba mais na entrevista a seguir.
Secretário, o 2º Festival de Nacional de Artesanato na Bahia será realizado entre os dias 9 e 12 de outubro, na Arena Fonte Nova. Quais são as principais novidades desta edição em comparação com o primeiro festival?
O 2º Festival Nacional do Artesanato da Bahia será na Arena Fonte Nova, com uma expectativa de ter um público ainda maior do que na 1ª edição. Esperamos mais de 30 mil pessoas passando pelo evento durante os quatro dias. E uma ampliação também da comercialização. No ano passado nós conseguimos registrar mais de 2 milhões de reais em vendas de peças artesanais. E a expectativa é de que esse número possa ser ultrapassado. É evidente que isso significa ganho de renda para as comunidades que são representadas por esses artesãos e artesãs que virão de várias partes do nosso estado e também de 17 estados brasileiros. É um dos maiores eventos do artesanato do nosso país, refletindo os avanços da nossa política pública nesta área. Além das exposições e comercialização dessas peças, teremos apresentações culturais, shows musicais, debates, eventos literários. E o principal: colocando luz nessa construção coletiva que é o artesanato da Bahia, fruto da nossa criatividade, da inventividade do nosso povo, resgatando a ancestralidade e a potência criativa da nossa população. O artesanato da Bahia tem se projetado para ser exposto em locais que antes seriam inimagináveis. A exemplo da Casa Cor, que é um dos maiores eventos de arquitetura e design de interiores. A São Paulo Fashion Week, onde nós tivemos a exposição de peças artesanais lindíssimas, incríveis, feitas pelas nossas artesãs. E este ano novamente estaremos na São Paulo Fashion Week. E tivemos recentemente agora em Paris, na França, na Lavagem de Madeleine, levando as peças artesanais da Bahia, que fizeram um grande sucesso na Europa. Isso reflete a força dessa atividade criativa, que gera renda, promove inclusão e resgata valores da nossa história e da resistência do nosso povo.
O festival terá shows de artistas renomados como Olodum, Mestrinho e Geraldo Azevedo. Qual a importância da música nordestina na proposta cultural do Fenaba?
Este ano o tema do nosso festival será ‘Letras e Ritmos, a Sinfonia do Artesanato da Bahia’. É exatamente o objetivo de fazer o entrelace entre o artesanato e outras linguagens artísticas, como a música e a literatura. E a presença desses artistas de grande expressão nacional reforçam ainda mais a importância da nossa política pública de fomento ao artesanato, que não acontece somente nesse período do festival. Fazemos esse tipo de ação ao longo do ano inteiro, com a promoção de eventos de comercialização, como feiras e demais festivais, como já fizemos o Festival de Maragogipinho, para reforçar a importância daquele artesanato de cerâmica, como já fizemos outras iniciativas ao longo do ano em vários territórios de identidade, como criamos as rotas do artesanato e como temos promovido qualificação, assistência técnica e apoio a essa atividade artesã. A gente tem realizado aqui na Bahia uma das principais políticas públicas de fomento ao artesanato do país, possibilitando aumento da renda para essas famílias, porque o artesanato tem sido, inclusive, comercializado em shopping centers, através das nossas redes de lojas da economia solidária. Portanto, a gente trata o artesanato como uma política pública permanente e que no festival ganha um realce ainda maior, fazendo entrelace com a música e com a literatura, que tem tudo a ver com a cultura popular.
O evento contará com o Espaço Ancestral, dedicado à memória e às tradições baianas. Que impacto a Setre espera gerar no público com essa experiência de reconexão cultural?
Quem chegar no festival já se deparará com um primeiro ambiente que será destinado para artesanato quilombola e indígena, resgatando os valores ancestrais e demonstrando a beleza desse artesanato, a riqueza cultural e o valor dessa história. Cada peça do artesanato da Bahia não é apenas um objeto. Ele se caracteriza por sintetizar a história de um povo, a resistência popular dessas comunidades e mecanismos de inclusão social e geração de renda. Por isso que nós estamos muito felizes e faremos um dos maiores eventos do artesanato brasileiro e certamente um dos mais charmosos do país.
Pensando nas famílias, o II Fenaba preparou atrações especiais para o Dia das Crianças e o Mês dos Professores. Como essas ações reforçam o caráter social e educativo do festival?
O artesanato também pode ser tratado como um mecanismo educativo. Por isso que a gente vai trabalhar bastante a presença das crianças, dos estudantes de escolas públicas e dos professores. Estamos firmando parcerias importantes que farão com que esse público esteja muito presente. A expectativa nossa é mais de 8 mil pessoas passando pelo evento diariamente. E temos um grande laço com a pauta da educação e o artesanato da Bahia tem muito a nos ensinar e nós podemos muito aprender também com artesãs e artesãos que estarão lá disponíveis para transmitir o seu conhecimento, o seu saber, a sua forma de fazer manualmente em tempos de inteligência artificial e de certa glamourização dos algoritmos. A gente demonstra que o trabalho feito à mão pode sim fazer a diferença na vida das pessoas. E o artesanato é a maior prova disso.
Quais são as metas da Setre com a Feira para os próximos anos, e como o festival pode se tornar uma referência nacional de artesanato e cultura?
O Fenaba já é uma referência nacional. Não é à toa que é um dos eventos do artesanato de maior expectativa no país. Dezessete estados, além do estado da Bahia, estão confirmados. Quinhentos artesãos e artesãs presentes expondo a sua produção. Tivemos mais de 2 mil artesãos inscritos para participar do festival. Adoraríamos ter todos eles no evento, mas não tem espaço físico para comportar tanta riqueza. Tivemos que fazer uma curadoria a partir de um processo de seleção pública. Quinhentos artesãos e artesãs foram selecionados e apresentarão seus trabalhos. E nós temos uma honra muito grande de poder acolher o artesanato de várias regiões do nosso estado e do nosso país. Quem for ao Fenaba vai se impressionar com a beleza, com a riqueza, com a força do artesanato e com a exuberância dessa magia ancestral que promove há décadas e séculos o artesanato da Bahia, carregando a nossa história e fortalecendo a nossa identidade cultural.
O senhor já comentou sobre algumas políticas que o estado vem desenvolvendo para fortalecer o artesanato na Bahia. Poderia detalhar um pouco mais essa questão? Que ações o estado tem implementado para gerar renda e empregos para os artesãos?
A nossa política pública de fomento ao artesanato é permanente. Nós temos assistência técnica, qualificação, apoio à comercialização, apoio à ida dos nossos artesãos e artesãs baianos para outros estados levarem as suas peças. Temos promovido também uma política permanente de venda dessas peças em grandes centros de comercialização, como shopping centers, através das nossas lojas de economia solidária, dos centros públicos de economia solidária. Também realizamos feiras, apoiamos eventos regionais. Fizemos e vamos fazer novamente o Festival de Maragogipinho, que é esse importante celeiro da cerâmica da América Latina. Temos a expectativa de realizar o festival do artesanato baiano indígena. Também estamos promovendo o artesanato quilombola e realizando, através de iniciativas locais, a promoção do artesanato de diversas comunidades periféricas. Só para termos um exemplo, a comunidade de Pitanga dos Palmares, em Simões Filho, que ficou muito conhecida por conta de um fato muito negativo, que foi o assassinato da Mãe Bernadette. Essas mulheres que produzem o artesanato local, antigamente produzindo apenas cestos, passaram, a partir da nossa atuação, a produzir biojóias. E essas peças artesanais, esses acessórios, estiveram na passarela da São Paulo Fashion Week, sendo utilizadas por artistas como Débora Seco e outras. Isso gerou um ganho de renda para essa população, porque a peça, que já era lindíssima e feita de uma maneira muito significativa, com a expressão da atuação dessas mulheres, também ganhou visibilidade, aumentando a comercialização e possibilitando que mais dinheiro circulasse na comunidade. Então, a gente acredita no artesanato como essa força de mudança de vida. E nós temos vários exemplos que podemos citar de mudança de trajetórias, que são feitas a partir do fomento da política pública do artesanato, que é desenvolvida aqui na Bahia. O governador Jerônimo é entusiasta nessa ideia, e a gente tem feito um trabalho incrível, que nos orgulha muito. É evidente que a criatividade das nossas artesãs e artesãos é o que carrega essa força, mas o apoio que o governo do Estado e que essa política pública tem feito, realmente tem realizado a diferença na vida de muitas pessoas.
Além do fortalecimento do artesanato, quais outros setores ou iniciativas o estado tem priorizado para fomentar a economia solidária na Bahia?
Para ter uma ideia, o artesanato é tão forte como política pública que nós temos uma coordenação específica nessa área, que é a Coordenação de Fomento ao Artesanato. E temos uma superintendência própria da economia solidária. Esse ano fizemos o Festival Nordestino da Economia Solidária no Centro de Convenções Salvador. Um festival que teve uma participação incrível. Milhares de pessoas estiveram e puderam presenciar a força da economia solidária da Bahia, que é um estado referência para o país nessa área. Nós desenvolvemos aqui os centros públicos de economia solidária. Já chegamos a 23 centros públicos que ajudam com assistência técnica, qualificação, apoio à comercialização, divulgação, promoção, para, inclusive, construir caminhos para que diversas redes de economia solidária possam se desenvolver. E temos exemplos fantásticos, como, por exemplo, nossa atuação com catadores e catadoras de materiais recicláveis, que através da economia solidária ganhou um novo impulso. Também na área da cadeia produtiva do chocolate, onde nós construímos agroindústria, e o agricultor passou a vender não a amêndoa do cacau, mas sim o chocolate, ganhando renda. Temos exemplos da cadeia produtiva do licuri, temos exemplos da cadeia produtiva do sisal e tantas outras referências importantes que fazem da economia solidária da Bahia realmente uma referência nacional. E o artesanato se integra. Fazemos essa política pública entrelaçada, com a compreensão de que é possível ter uma economia que seja baseada na sustentabilidade, no respeito ao trabalho decente, na inclusão das mulheres, no fortalecimento da economia local e na garantia do comércio justo. Por isso que a gente tem dado uma relevância muito grande para a economia solidária e o fomento ao artesanato se integra a esta visão.
Além da economia solidária, o artesanato também se conecta à cultura, à ancestralidade e à própria resistência dos povos originários. Como a Setre tem trabalhado, em parceria com outras secretarias, nessas questões específicas?
Todo esforço de nossa atuação é em conjunto com o time de nosso governo. Então, várias secretarias estão envolvidas e apoiando a nossa ação como a Secretaria de Cultura, a Secretaria de Turismo, a área de Desenvolvimento Econômico e tantas outras que são parceiras desse nosso projeto. E a gente acredita muito que essa atuação conjunta, que seja transversal, ela promove inclusão, promove renda e transforma a vida das pessoas.
Para finalizar, o que o público pode esperar deste festival? Que ações estão sendo realizadas para recebê-lo da melhor forma? Qual a mensagem final que vocês gostariam de deixar?
Quem for à Fenaba vai se surpreender. Teremos além da força do artesanato baiano, que é o carro-chefe, uma presença também muito significativa de outras linguagens culturais e eu tenho certeza que ao longo desses quatro dias a Fonte Nova vai ferver e positivamente demonstrando a riqueza nossa cultural com debates, com palestras, com eventos, com shows musicais, com atividades culturais, com festival gastronômico. E o principal: vejam a riqueza do artesanato baiano e também de outros estados do país. Será uma oportunidade única de ter um evento dessa magnitude em Salvador e eu tenho certeza que todo mundo que for lá vai se surpreender positivamente e nós estamos preparando um grande evento. Está todo mundo convidado, será gratuito. Basta baixar o ingresso no site artesanatodabahia.com.br e está todo mundo convidado para celebrar conosco a força dessa ancestralidade. E aproveitem, comprem também as peças do artesanato da Bahia. Vai ter peças de todo tipo, peças com preço que vai caber em todos os bolsos. Claro que tem peças também de uma riqueza tão fantástica que são de muito valor, de valor agregado maior, mas também vão ter peças menores e peças com valor menor. Então, tem para todos os gostos, para todos os espaços e certamente quem for vai gostar bastante e estamos preparando um grande festival.
Raio-X
Atual secretário do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte da Bahia, Augusto Vasconcelos é advogado, servidor de carreira da Caixa Econômica Federal, professor de graduação e pós-graduação em Direito (Uneb, Unime e outras instituições) e vereador licenciado de Salvador em seu segundo mandato. Foi Ouvidor-Geral da Câmara Municipal, presidente do Sindicato dos Bancários da Bahia e dirigente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). Ele é mestre em Políticas Sociais e Cidadania (UCSal) e especialista em Direito do Estado (Ufba). Foi vice-presidente regional da União Nacional dos Estudantes (UNE).
Fonte: A Tarde