HomePolíticaAgente que escoltava suspeitos do INSS movimentou R$ 2,8 mi

Agente que escoltava suspeitos do INSS movimentou R$ 2,8 mi

O agente afastado da Polícia Federal Philipe Roters Coutinho está na mira de investigações de sua própria instituição, da Justiça e da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS. Os parlamentares investigam movimentações financeiras da ordem de R$ 2,8 milhões e o fato dele ter usado um carro da Polícia Federal para escoltar o empresário e suposto lobista Danilo Trento e o então procurador-geral do INSS, Virgílio Oliveira Filho, em uma área restrita do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, em novembro do ano passado.

Os nomes de Oliveira Filho e de Trento estão entre os investigados na CPMI sob suspeita de participarem do esquema de descontos bilionários de aposentados e pensionistas direto da folha de pagamento do INSS.

O que a Justiça e a CPMI querem saber é se o policial federal foi cooptado para escoltar pessoas ligadas ao esquema na área interna do aeroporto, evitando que remessas de dinheiro sem procedência comprovada não fossem interceptadas por forças de segurança aeroportuárias, por exemplo. Nas investigações, o policial foi flagrado dando carona a Trento e Oliveira Filho até um voo particular.

O advogado Cristiano Barros, que representa o agente Philipe Roters Coutinho, disse à Gazeta do Povo que o transporte realizado no Aeroporto de Congonhas ocorreu “em conformidade com os procedimentos legais e habituais aplicáveis ao deslocamento de autoridades” e que não há nenhuma ilegalidade cometida pelo seu cliente.

O policial chegou a afirmar na época que Trento, que já apareceu como investigado na CPI da Covid, era seu amigo de longa data e que deu carona para que não perdesse o voo. Na ocasião, imagens obtidas pelos investigadores indicaram que Trento carregava malas, que não se sabe o conteúdo. Trento não se manifestou sobre o caso.

Outro ponto que causou estranheza entre investigadores e parlamentares foi a viagem, no mesmo voo, de Oliveira Filho, que era procurador do INSS e hoje é investigado na CPMI por desvio de recursos. Ele afirma que não teve participação nos descontos indevidos e não respondeu a um pedido da reportagem para se manifestar.

Os parlamentares querem convocar o policial federal para depor na comissão sobre as supostas escoltas e para interrogá-lo se recebia vantagens indevidas por tal conduta. Isso porque cerca de US$ 200 mil em espécie (próximo de R$ 1,1 milhão) foram apreendidos na casa do policial federal durante a operação Sem Desconto deflagrada em abril pela Polícia Federal e pela Controladoria-Geral da União (CGU). Também foram apreendidas supostas obras de arte e joias na residência do policial.

Na última semana, um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), enviado pela Receita Federal a pedido da CPMI, também indicou que o agente teve movimentações financeiras atípicas de R$ 2,8 milhões em suas contas de maio do ano passado a maio deste ano. Como policial federal, ele tem um salário de R$ 13 mil e a própria instituição avaliou, na investigação, que a movimentação era incompatível com os ganhos de um agente público.

A defesa do policial disse que, ao longo das investigações, foram elaborados centenas de Relatórios de Inteligência Financeira (RIFs), sem que tenha sido identificada qualquer movimentação suspeita ou transação envolvendo o nome de Coutinho. Segundo o advogado, todos os bens e direitos do agente estão devidamente declarados no seu imposto de renda.

A Gazeta do Povo também procurou a PF, que disse não comentar investigações em curso. A instituição também não quis informar quais medidas foram ou podem ser adotadas em relação à suposta conduta do servidor. Vale destacar que o policial foi um dos seis servidores afastados de suas funções ainda em abril, quando o esquema foi desvendado.

Pelo menos sete parlamentares fizeram requerimentos para que o policial afastado seja convocado para depor na CPMI, mas nenhum foi apreciado pela comissão até o momento. Um desses requerimentos é da senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS).

“Surgiram suspeitas de que o referido agente da Polícia Federal possa ter recebido vantagens financeiras para facilitar ou acobertar práticas ilícitas. Verificar a existência de movimentações financeiras em nome de Philipe Roters Coutinho é medida essencial para a comprovação de eventual conluio entre servidores públicos e operadores privados do esquema [das fraudes bilionárias do INSS]”, descreveu a senadora.

A Direção Geral da PF não se manifestou à CPMI sob o argumento de que o processo segue em sigilo no Supremo Tribunal Federal (STF) e que não poderia tratar do tema com a comissão.

Parlamentares querem saber sobre o suposto envolvimento do agente, qual pode ter sido seu papel no esquema e se há ligações dele, de forma direta ou indireta, com Antônio Carlos Camilo Antunes, o chamado Careca do INSS”, apontado como o principal operador. Em depoimento à CPMI, Camilo Antunes negou qualquer irregularidade envolvendo os descontos de beneficiários do INSS e disse ser um empresário bem-sucedido.

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Quem é o policial federal alvo da apuração

O policial federal afastado Philipe Roters Coutinho, que é alvo de apuração na CPMI do INSS, tem formação em Direito e atuou como advogado criminal antes de ingressar na corporação. Na década de 1990, ele manteve um escritório na Bahia, período anterior à sua entrada na Polícia Federal.

Como agente, ele teve uma trajetória também no exterior: foi adido policial em Londres de 2015 a 2018, representando a Polícia Federal em missões internacionais.

O policial trabalhava no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, onde exercia suas funções até ser afastado por decisão judicial em abril deste ano. Ele também teve atuação destacada no Senado Federal em 2024, ao ser designado para trabalhar na CPI das Bets, comissão que investigou possíveis irregularidades no mercado de apostas esportivas no Brasil.

A CPMI pediu a quebra do seu sigilo fiscal, chegou a solicitar a prisão dele e de outros envolvidos no suposto esquema, mas o STF negou o pedido de prisão. Já a quebra do sigilo foi autorizada.

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Viagens com perfil atípico para Brasília

A Polícia Federal chegou a classificar, no relatório da operação, que a conduta do agente indicava suposta “ilegalidade”, destacando ainda a existência de “viagens com perfil de compra atípica”, incluindo passagens adquiridas de última hora e voos conhecidos como “bate e volta”, sobretudo de São Paulo para Brasília.

Esse é outro ponto que a CPMI tenta esclarecer, tendo em vista que o agente estava lotado em São Paulo, mas viajou com frequência para Brasília e não eram viagens profissionais nem operações policiais. O policial afirma que todas as passagens foram compradas com recursos próprios e que não há irregularidades em seus deslocamentos.

Já no relatório do Coaf enviado à CPMI há menções de que as movimentações financeiras de Coutinho foram “incompatíveis com o patrimônio” e “atípicas para servidores públicos”.

O relatório menciona que o policial registrou R$ 1,4 milhão em créditos e R$ 1,4 milhão em débitos de maio de 2024 a maio de 2025, ou seja, de entradas e saídas de suas contas. O advogado que defende o policial federal disse que as respostas específicas serão prestadas em momento oportuno.

A CPMI também quer entender se outros agentes públicos podem ter sido cooptados para operar com o suposto grupo criminoso. A reportagem apurou que ainda não foram identificadas evidências de envolvimento de outros agentes.

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Danilo Trento é suspeito de operar com o “Careca do INSS”

O nome do lobista Danilo Trento voltou a aparecer em investigações policiais, desta vez ligado supostamente às fraudes do INSS. Ele operaria como uma espécie de braço financeiro no esquema e foi apontado como suposto beneficiário em pagamentos feitos por Maurício Camisotti, suspeito de utilizar laranjas para operar três entidades que faturaram quase R$ 600 milhões com descontos irregulares sobre aposentadorias. A defesa de Camisotti nega envolvimentos nas fraudes.

De acordo com as apurações, Trento teria agido em parceria com o então procurador do INSS, enquanto Coutinho pode ter sido responsável por escoltar os dois no aeroporto, contribuindo para o transporte e a movimentação do dinheiro vindos do suposto esquema ilícito.

O senador Carlos Viana (Podemos-MG), presidente da CPMI do INSS, afirmou que alguns convocados têm evitado agendar depoimentos à comissão. Sem citar o nome do policial ou de outros possíveis envolvidos, disse que, diante da resistência de depoentes, poderá solicitar a condução coercitiva dos que se recusarem a comparecer.

De acordo com Viana, a maior parte dessa resistência vem de servidores públicos investigados por suposto envolvimento no escândalo. “Se não aparecerem, a polícia vai bater na porta deles”, declarou. Viana advertiu ainda que qualquer tentativa de mentir durante as oitivas poderá resultar em prisão em flagrante.

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Fonte: Gazeta do Povo

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