Cinco horas de conversas entre o presidente russo Vladimir Putin e os principais negociadores dos EUA não resultaram em avanços para um possível acordo de paz na Ucrânia, disse um assessor do Kremlin na manhã desta quarta-feira (3).
O enviado especial do presidente dos EUA, Donald Trump, Steve Witkoff, e seu genro, Jared Kushner, reuniram-se com Putin no Kremlin na terça-feira (2) para conversas de alto nível, culminando uma semana de intensa diplomacia, enquanto o governo Trump continua seus esforços para encerrar a guerra russa na Ucrânia.
As conversas na capital russa foram “muito úteis, construtivas e altamente substanciais”, mas “não se encontrou uma opção de compromisso”, disse o assessor de política externa russo e assessor de Putin, Yuri Ushakov, a repórteres após a reunião.
“Algumas das propostas americanas parecem mais ou menos aceitáveis, embora precisem ser discutidas”, disse Ushakov, acrescentando que outros pontos “não nos agradam”.
“O trabalho continuará”, afirmou.
Entre os pontos de atrito anteriores estão as exigências do Kremlin para que a Ucrânia renuncie formalmente à sua pretenção de ingressar na Otan e para que a Ucrânia ceda território na região de Donbas, no leste da Ucrânia, que foi anexado, mas ainda não conquistado, pela Rússia.
O lado americano ainda não comentou publicamente sobre as negociações, mas antes da reunião, os EUA estavam “muito otimistas” em relação a um acordo para encerrar a guerra de três anos e meio, segundo a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt.
Uma reunião entre Putin e Trump não foi agendada e um possível encontro presencial “dependerá do progresso que conseguirmos alcançar”, disse Ushakov.
Autoridades ucranianas continuaram a rejeitar as exigências da Rússia, que o Kremlin continua a considerar linhas vermelhas.
Ushakov disse que Putin e a delegação americana discutiram questões territoriais em sua reunião, “sem as quais não vemos uma solução para a crise”.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou que esperava se comunicar com a equipe de negociação dos EUA imediatamente após as conversas com Putin e que estava “aguardando sinais” da delegação sobre o resultado do encontro.
“Receberemos certos sinais e, se forem positivos – se houver um jogo limpo com nossos parceiros – talvez nos encontremos com a delegação americana muito em breve”, disse Zelensky antes das conversas.
O líder ucraniano afirmou que uma delegação de alto nível seria enviada se as mensagens dos americanos sinalizassem uma oportunidade para “decisões globais, mas rápidas”.
Horas antes da reunião, Putin emitiu um alerta de que, embora a Rússia não planeje entrar em guerra com a Europa, está “pronta” para responder caso a Europa inicie um conflito.
Anteriormente, Putin havia acusado os líderes europeus de tentarem bloquear o acordo de paz proposto pelos EUA, “apresentando exigências absolutamente inaceitáveis para a Rússia”, e sugeriu que os aliados europeus da Ucrânia estão “do lado da guerra”.
“Eles próprios se recusaram a negociar a paz e estão interferindo no presidente Trump”, acrescentou.
Embora Putin não tenha explicado seu raciocínio em detalhes, provavelmente se referia às mudanças supostamente feitas no plano de paz original de 28 pontos de Trump, apresentado pelos EUA no mês passado e rejeitado pela Ucrânia e seus aliados europeus.
Uma reunião posterior em Genebra entre delegações ucranianas e americanas resultou em alterações na minuta, tornando-a mais aceitável para Kiev.
Mas poucas horas antes das negociações cruciais, o Kremlin reiterou sua posição de que qualquer acordo de paz deve resolver o que descreve como as “causas iniciais” ou “razões subjacentes” da invasão – uma forma abreviada de se referir a uma longa lista de exigências que inclui a suspensão da expansão da Otan, o reconhecimento do controle reivindicado pela Rússia sobre as regiões ucranianas ocupadas e o fim efetivo da Ucrânia como um Estado soberano.
Um alto funcionário da Otan disse a jornalistas que não vê indícios de que Moscou esteja disposta a fazer “concessões significativas” para encerrar a guerra na Ucrânia.
O funcionário afirmou que a Rússia mantém suas exigências territoriais e continuará “buscando enfraquecer ao máximo as capacidades militares da Ucrânia para abrir caminho para novas agressões”.
O encontro entre Putin e os EUA ocorreu após autoridades americanas e uma delegação ucraniana se reunirem em Miami no domingo (30) para conversas que o secretário de Estado Marco Rubio descreveu como “muito produtivas”, embora tenha alertado que ainda há muito trabalho a ser feito.
Witkoff e Kushner, que não ocupa um cargo oficial no governo americano, mas ressurgiu como uma figura-chave nos esforços diplomáticos da administração, foram vistos caminhando pela Praça Vermelha de Moscou com o representante do Kremlin, Kirill Dmitriev, antes da reunião, segundo imagens da agência de notícias estatal russa TASS.
Mais cedo, Witkoff e Dmitriev almoçaram em um restaurante moscovita com estrela Michelin, onde degustaram caviar, codorna, carne de veado e caranguejo, conforme relatou o diretor do restaurante, Maxim Romantsev, ao jornal russo Izvestia.
Fonte: CNN BRASIL