Responsável por movimentar trilhões de reais anualmente e por deter a maior parte do capital brasileiro, o mercado financeiro costuma desempenhar papel central na definição dos rumos das eleições presidenciais. Em 2022, esse peso ficou evidente: faltando poucos dias para o pleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) divulgou a “Carta para o Brasil do Amanhã”, prometendo responsabilidade fiscal, social e desenvolvimento sustentável, buscando então forma de acalmar investidores que temiam um retorno ao modelo mais intervencionista do petista.
Três anos depois, porém, parte significativa do setor financeiro se diz arrependida. “Não vejo mais ninguém no mercado defendendo Lula, a não ser os petistas de carteirinha. As pessoas acordaram e perceberam a besteira que fizeram”, afirma Octávio Magalhães, fundador e gestor da Guepardo Investimentos, fundo com R$ 4,6 bilhões sob gestão. Para ele, o grande objetivo agora é encontrar o candidato capaz de derrotar Lula em 2026.
O preferido segue sendo o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Mas diante da possibilidade de ele buscar a reeleição no estado e da dependência de seu vínculo com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), cresce no radar dos investidores o nome de Ratinho Junior (PSD), governador do Paraná.
“Sem Tarcísio, Ratinho Junior se torna o candidato mais viável. Ele defende um Estado menor, menos impostos e privatizações, e tem mostrado resultados positivos no Paraná, como o crescimento do PIB e a atração de investimentos”, diz Magalhães.
O governador também é visto como político com boa capacidade de articulação e menos dependente de Bolsonaro. “Ele é jovem, carismático, habilidoso, e o fato de não dever nada ao Bolsonaro o torna um candidato capaz de fazer uma campanha menos polarizada”, avalia Ricardo Lacerda, fundador do banco BR Partners, que tem R$ 18 bilhões sob gestão.
Outro ponto destacado é o potencial eleitoral do pai, o empresário e apresentador Ratinho. “Ele pode se tornar conhecido rapidamente no país e o pai dele pode ajudá-lo principalmente nas classes C, D e E”, completa Lacerda.
Renato Jerusalmi, sócio da Riza Asset, que administra cerca de R$ 18 bilhões em fundos, também vê vantagem para 2026 na postura liberal de Ratinho Junior. “A cabeça dele é igual à do Tarcísio. Defende reformas estruturais, sabe que é preciso consertar o caos fiscal e enfrenta o principal desafio do Brasil hoje, que é o descontrole das contas públicas”, diz.
Se Lula se reeleger, o país vai para o abismo em 2026.
Renato Jerusalmi, sócio da Riza Asset
Na avaliação de Jerusalmi, a situação fiscal atual é alarmante, o que amplia a necessidade de um nome competitivo contra Lula. “O governo tem praticado uma política extremamente irresponsável. Os gastos crescem 13% ao ano. Se Lula se reeleger, o país vai para o abismo em 2026”, afirma.
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Para o economista Marcos Cintra, ex-secretário especial da Receita Federal no governo Bolsonaro e vice-presidente da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o governador do Paraná veste o figurino de uma candidatura menos marcada por chavões políticos e com trajetória própria, o que pode favorecê-lo em 2026.
“Está todo mundo cansado das duas que simbolizam as duas posições ideológicas, o Lula pelo desgaste, pela trajetória, ele já esgotou um pouco a mensagem que ele trouxe para a tribo dele e está todo mundo um pouco decepcionado com a performance no governo. E o Bolsonaro também pelo envolvimento com um grupo que é muito aferrado a sua liderança hegemônica e se sente totalmente superior a tudo, o que causa fricções nos conservadores”, diz Cintra.
“O Ratinho sem dúvida alguma se posiciona um pouco nesse espectro de uma candidatura nova, bem colocada e que foge um pouco do estereótipo de direita e esquerda”, complementa.
Fonte: Gazeta do Povo