Nas últimas semanas, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), vem intensificando as críticas ao próprio partido e ao presidente do PL, Valdemar Costa Neto, em um movimento que impactará as eleições presidenciais em 2026.
O tom mais agressivo reflete uma tentativa de resguardar o que ele próprio chama de “movimento bolsonarista”, em um momento em que não consegue se comunicar com o pai, condenado a 27 anos e 3 meses de prisão por crimes como tentativa violenta de abolição do Estado Democrático de Direito e tentativa de golpe de Estado.
Os partidos de centro, por sua vez, decisivos para a aprovação do PL da Anistia, veem em nomes de fora da família Bolsonaro nomes mais positivos para seus planos políticos, na disputa às eleições em 2026. É o caso do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
“Por que meu nome foi retirado das pesquisas que são encomendadas pelo PL? E não precisa ser Eduardo Bolsonaro, não, jogue aí Flávio Bolsonaro junto, tiraram os nossos dois nomes”, questionou Eduardo em entrevista ao programa Petrópolis Conservador, no último dia 22, quando ele reafirmou que será candidato à Presidência da República caso o pai permaneça inelegível.
Por que meu nome foi retirado das pesquisas que são encomendadas pelo PL?
Eduardo Bolsonaro, deputado federal (PL)
“O sistema quer tirar Jair Bolsonaro e todo mundo na sequência que apresenta algum risco ao establishment”, complementou o deputado federal, que reafirmou que se candidataria caso o pai não possa disputar as eleições. Por outro lado, Valdemar Costa Neto, presidente do PL, tem afirmado que quem vai escolher o nome que disputará as eleições de 2026 será unicamente o ex-presidente, e que Eduardo Bolsonaro deve respeitar a vontade do pai.
VEJA TAMBÉM:
-
Ratinho Junior e Eduardo Leite buscam caminho pelo centro contra Lula em 2026
Pluralidade de nomes da direita deve favorecer espectro político de oposição a Lula
A despeito das farpas trocadas entre Eduardo Bolsonaro e Valdemar Costa Neto, especialistas afirmam que o surgimento de mais de um nome disputando o eleitorado da direita pode ser positivo para o conservadorismo, mesmo se Eduardo migrar de legenda para se candidatar.
“Jair Bolsonaro construiu um capital político eleitoral ao longo de 2018 para cá, e é natural que os filhos não queiram ver esse capital transferido para fora do ambiente familiar. Manter o bolsonarismo nas mãos de alguém da família Bolsonaro é mais assertivo tanto para manter o eleitorado quanto como instrumento de pressão para conseguir a libertação do pai”, diz o cientista político Antonio Lavareda.
Para Lavareda, ter um candidato com sobrenome Bolsonaro disputando com outros candidatos da direita é positivo para a democracia e é uma herança da Constituição de Brasileira de 1988, que adotou a ideia de segundo turno justamente para incentivar uma maior pluralidade de candidaturas no primeiro turno.
“O candidato que vai para o segundo turno costuma somar os votos que foram para candidatos semelhantes a ele no primeiro turno. Muitas vezes, o eleitor acaba transferindo o apoio para o candidato que se manteve na disputa, mesmo que não se identifique com ele diretamente”, complementa.
Nas eleições municipais em 2024 em São Paulo, por exemplo, o candidato à reeleição Ricardo Nunes (MDB), e o vice, Ricardo Mello Araújo (PL), disputaram o primeiro turno com candidatos da direita, como Pablo Marçal (PRTB) e Marina Helena (Novo). No segundo turno, Nunes e Mello Araújo herdaram esses votos e venceram o candidato apoiado pelo PT e por Lula, Guilherme Boulos (Psol).
Em outra análise, para o cientista político e professor do Insper Leandro Consentino, a candidatura de Eduardo Bolsonaro pode impedir que outros presidenciáveis aliados de Jair Bolsonaro entrem da disputa eleitoral em 2026. “Eles poderiam ser vistos como traidores, a exemplo do que ocorreu com João Dória (PSDB). Isso representaria um estrago político importante”, diz ele.
“Para não contrariarem Bolsonaro, os governadores poderiam até se direcionar para uma disputa no Legislativo, o que deixaria a direita brasileira um pouco à deriva”, pondera.
VEJA TAMBÉM:
-
Lula define Tarcísio como adversário para 2026 em meio a julgamento de Bolsonaro
Elegibilidade de Eduardo Bolsonaro poderá ser julgada por “tribunal ideológico”, afirma especialista
Para o advogado especialista em Direito Eleitoral Alexandre Rollo, no momento Eduardo Bolsonaro não tem condenação na Justiça e, portanto, não está inelegível. O alívio, porém, pode ser temporário, tendo em vista que o deputado é acusado pela Procuradoria Geral da República (PGR) por coação a autoridades que condenaram Jair Bolsonaro.
“Se houver alguma condenação até julho do ano que vem no processo em que a PGR o denunciou por coação, ele pode se tornar inelegível”, aponta Rollo. Caso Eduardo não tenha nenhuma condenação, o especialista afirma que, em tese, nada o impediria de ser escolhido candidato em convenção partidária, mesmo estando fora do Brasil, já que as convenções podem ocorrer de forma online.
O ponto sensível seria o domicílio eleitoral. “É um caso inédito para a Justiça Eleitoral e será preciso ver como os tribunais interpretarão o fato notório de ele residir no exterior.” Segundo Rollo, isso pode gerar questionamentos e até dificultar o registro da candidatura.
O advogado também destaca que, no ato do registro de candidatura, abre-se a janela para impugnações por parte de partidos, candidatos, coligações, federações ou do Ministério Público Eleitoral. “Caberá à Justiça Eleitoral analisar e decidir se autoriza ou não a candidatura”, pontua.
É um caso inédito para a Justiça Eleitoral e será preciso ver como os tribunais interpretarão o fato notório de ele residir no exterior.
Alexandre Rollo, advogado especialista em Direito Eleitoral
No caso de uma disputa ao Planalto, o processo tramitaria no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e seria decidido pela maioria dos votos entre os sete ministros. Especialistas avaliam que, além dos aspectos técnicos, há na Corte um componente ideológico que não pode ser desconsiderado.
Em 2026, o tribunal será presidido por Kássio Nunes Marques, que foi indicado por Jair Bolsonaro, e também contará com André Mendonça, também indicado pelo ex-presidente. No entanto, outros ministros têm ligações com adversários de Eduardo Bolsonaro.
Dias Toffoli, por exemplo, foi assessor jurídico do PT, e indicado para a Suprema Corte por Luiz Inácio Lula da Silva. Os advogados Floriano de Azevedo Marques e Estela Aranha também foram nomeados pelo presidente Lula. Há, ainda, os ministros do STJ Antônio Carlos Ferreira e Ricardo Villas Bôas Cueva, ambos nomeados durante o governo Dilma Rousseff (PT).
Fonte: Gazeta do Povo