Os casos de intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas adulteradas estão chamando a atenção no estado de São Paulo. Eles já provocaram duas mortes e ao menos oito internações em menos de três semanas, segundo dados da Vigilância Sanitária. As ocorrências foram registradas de 1º e 18 de setembro nas cidades de São Paulo, Limeira e Bragança Paulista.
Uma das vítimas fatais foi um homem de 54 anos, na capital, que apresentou sintomas no dia 9 e morreu dias depois em hospital da rede privada. Outra morte confirmada foi a de um homem de 38 anos em São Bernardo do Campo. Além desses casos, pacientes seguem internados e outros já receberam alta.
Em entrevista ao Fantástico, um estudante relatou que chegou a perder temporariamente a visão após ingerir uma bebida alcóolica contaminada. Ele precisou ficar três dias hospitalizado. Um amigo que também consumiu a bebida segue em coma há quase um mês. Outra vítima, relatou que ficou completamente cega depois de beber três caipirinhas de vodca em um bar da capital paulista.
O metanol é um álcool simples, incolor e altamente tóxico, usado em solventes, combustíveis, tintas e plásticos. No organismo, se transforma em substâncias que atacam fígado, rins, cérebro e nervo óptico. Pequenas doses já são suficientes para provocar náusea, vômito, cólicas, confusão mental, convulsões, cegueira e até a morte. Os sintomas iniciais podem ser confundidos com uma embriaguez comum, o que pode retardar o diagnóstico.
O tratamento é uma emergência médica e pode incluir medicamentos e até a necessidade de diálise. Especialistas alertam que a rapidez no atendimento é determinante para a sobrevivência e para evitar sequelas graves.
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Suspeita que bebidas alcóolicas adulteradas tenham ligação com o crime organizado
A Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) alerta que o metanol usado para adulterar bebidas pode ter a mesma característica e origem de lotes importados ilegalmente pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) para fraudar combustíveis. Segundo a entidade, após operações policiais fecharem distribuidoras e formuladoras ligadas ao esquema, o produto teria sido repassado a destilarias clandestinas e falsificadores de bebidas alcóolicas, em busca de lucro rápido.
A ABCF alertou ainda à crescente participação de facções criminosas no mercado de bebidas adulteradas no país. Segundo a entidade, a entrada do crime organizado nesse setor ampliou os desafios de fiscalização, em razão da capacidade financeira e da rede de distribuição utilizada pelas facções para abastecer pontos de venda, sobretudo em áreas de média e baixa renda nos grandes centros consumidores.
A Associação afirmou que há anos atua em parceria com forças policiais em ações de inteligência e denúncias contra quadrilhas de falsificadores, mas destacou que o problema se agravou após a desativação do sistema de controle de produção de bebidas, que era operado pela Receita Federal e pela Casa da Moeda. Desde então, os volumes de bebidas falsificadas cresceram “em bilhões de litros”, com reflexos também na sonegação fiscal.
Mais do que os impactos econômicos, a ABCF ressaltou os riscos diretos à saúde da população. “O maior prejuízo está na saúde dos consumidores, que acabam sendo vítimas de um mercado que não respeita nenhuma regra de segurança”, alerta a entidade.
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Como as suspeitas de contaminação por metanol se intensificaram
A suspeita que o metanol usado para “batizar” bebidas alcóolicas a partir de carregamentos de metanol importados pelo PCC está alinhada à Operação Carbono Oculto, deflagrada em agosto pela Polícia Federal, Receita Federal e Ministério Público de São Paulo. As investigações revelaram que postos vendiam gasolina com até 90% de metanol, muito acima do limite legal definido pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). O esquema envolvia importação irregular pelo Porto de Paranaguá (PR) e movimentava bilhões de reais.
O Centro de Vigilância Sanitária (CVS) confirmou seis casos de intoxicação por metanol e monitora outros dez suspeitos. A entidade afirma que bares e estabelecimentos devem redobrar a atenção sobre a procedência das bebidas e que consumidores devem adquirir apenas produtos de fabricantes legalizados, com rótulo, lacre de segurança e selo fiscal.
O Sistema de Alerta Rápido (SAR), vinculado ao Ministério da Justiça, classifica o aumento repentino das intoxicações como fora do padrão. O órgão ressaltou que a contaminação tem ocorrido em ambientes sociais, com diferentes tipos de bebidas alcóolicas e pediu atenção redobrada da população, especialmente em fins de semana, quando cresce o consumo de álcool.
Fonte: Gazeta do Povo